Intervenção
de Vladimiro Matos (02/12/2013)
O Futuro do Comércio e Serviços
Para vos falar sobre este tema e para melhor enquadramento
histórico e económico do mesmo, não posso deixar de vos relatar um pouco da
minha experiencia pessoal enquanto empresário do comércio.
Será o meu testemunho de proprietário de uma micro empresa
comercial, instaladora e prestadora de serviços, localizada e fundada pelo meu
pai em 1948 em Alenquer, portanto já com 65 anos de existência, onde chegaram a
trabalhar 18 colaboradores e que atualmente não ultrapassa os 5.
Empresa ligada ao ramo elétrico e afins que se iniciou com a
comercialização e reparação de rádios ligados a baterias de 12V, uma vez que a
esmagadora maioria dos agregados familiares no concelho de Alenquer, a 40km de
Lisboa ainda não possuíam luz elétrica.
Instalada em espaço rural, chegámos a ter uma rede 70 de
Agentes revendedores, espalhados pelos concelhos de Alenquer, Arruda dos
Vinhos, Azambuja, Cadaval, Sobral de Monte Agraço e Torres Vedras, onde, volto
a referir, a maioria da população rural, se iluminava à luz da vela ou do
candeeiro a petróleo e o seu profundo isolamento só era quebrado pelo rádio a bateria.
Fiz parte da minha infância a percorrer caminhos térreos e
veredas pelas freguesias rurais do meu concelho a acompanhar o meu pai a
contactar esses agentes e a levar um pouco de informação a estas populações abandonadas
e sem recursos.
A empresa acabaria por ter um papel fundamental nas primeiras
eletrificações no concelho, graças a um corpo de eletricistas que o meu próprio
pai formou ou admitiu, tendo-se, ao longo dos anos, transformado naquilo que
hoje ainda se chama loja de eletrodomésticos, com as constantes adaptações às
exigências do mercado de consumo na área do material elétrico.
INFLUENCIA DO 25 DE ABRIL NA ACTIVIDADE ECONÓMICA
Com a chegada do 25 de Abril de 1974, o povo português viu
finalmente chegado o reconhecimento do seu valor e dos seus direitos sociais
enquanto cidadãos e cidadãs deste país.
Com o Dec. Lei 217/74 de 27 de Maio é então introduzida pelo
Governo Provisório de então, a figura de “salário mínimo nacional” que passou a
ser de 3300$00, medida esta que viria a ter efeitos transversais na economia do
país, tendo contribuído para uma melhoria das condições de vida dos
portugueses, entre outras, saliente-se o poder de compra, facto que se veio a
refletir no aumento da produção industrial no aparecimento de novas fabricas de
produção nacional a trabalharem para o mercado interno com a consequente
redução das importações a contribuírem para o equilíbrio da balança de
pagamentos.
Um ano depois em 16/6/75, o “salário mínimo nacional” passou
a ser de 4000$00 e então o comércio passa a ter uma fase de grande
expansão.
Caros amigos,
Até aqui, tentei dar-vos uma pequena imagem, embora baseada
na minha experiencia pessoal, vivida antes e depois do 25 de Abril, até meados
dos anos 80.
ENTRADA NA CEE
Com a entrada em Janeiro de 1986 na CEE- Comunidade Económica
Europeia, apesar dos grandes discursos dos defensores do supostamente ”paraíso”
económico e social, antes pelo contrário, inicia-se um ciclo de retrocesso de
desenvolvimento social e económico do nosso país, com a destruição gradual do
nosso tecido produtivo, quer agrícola, industrial e comercial, de submissão do
poder político português aos interesses económicos europeus, começam a surgir
políticas de estrangulamento aos micro e pequenos empresários onde o pequeno
comércio se insere, ao mesmo tempo que se abrem as portas aos grandes
especuladores da economia, longe de qualquer equilíbrio, aos detentores das
grandes insígnias europeias, implementadoras dos grandes centros comerciais.
A Globalização da economia e dos grandes interesses do
capital europeu e mundial, dava os primeiros passos em Portugal, no que diz
respeito ao sector secundário, com o Governo a oferecer-lhes a famigerada Lei
12/2004, (Lei do Licenciamento) que passou a proteger a implantação desenfreada
de grandes superfícies comerciais em detrimento de qualquer politica de apoio
ao micro e pequeno comércio, que até então era o grande dinamizador do emprego,
da vida social, cultural e económica nas aldeias, vilas e cidades do nosso
Portugal profundo.
O cenário de hoje é de luto, de lojas do comércio tradicional
a fecharem todos os dias, de falências e insolvências em catadupa, de
desertificação dos centros urbanos, solidão urbana, montras de luzes apagadas,
rostos de tristeza, patrões e empregados solidários na desgraça e sem saberem o
que fazer da vida, com tamanha ausência de negócio.
Temos consciência que os hábitos de consumo tiveram grandes
convulsões de natureza oportunista, de facilitismo encapotado, e que contaram
também com o interesse económico do poder local autárquico, que “cegavam” com
as receitas vindas das taxas de ocupação e licenciamento dos grandes espaços
comerciais.
Somos dos que pensam que todos os níveis e formas de comércio
têm lugar desde que se respeitem mutuamente e que haja equilíbrio nas politicas
de atribuição de espaço de mercado.
Os micros e pequenos empresários do comércio reivindicam um
comércio de rua recuperado e para isso necessitam da parte do Governo e das
Autarquias locais, politicas que tenham em consideração a sua situação estratégica
e de parceiros preferenciais para o desenvolvimento do país e dos núcleos
urbanos e não o contrário, porque ao mesmo tempo que contribuem para o consumo
interno, estão a contribuir para o aumento dos níveis de produção interna nos
outros dois sectores de atividade económica; primário e terciário, e
consequentemente na diminuição do desemprego, na redução da delinquência, na
melhoria das condições sociais das populações.
Evidentemente que, com uma política de restringimentos
sociais, como a atual, não vamos a lado nenhum. Com as famílias a receberem
cada vez menos, a terem cada vez menos acessos à saúde, ao ensino, à justiça,
ao trabalho com direitos, o encerramento de serviços públicos, etc., diria que
o comércio tradicional é o primeiro sector a sofrer com essa situação.
Põe-se agora as seguintes questões:
1)
Que
fazer perante esta situação?
2)
Qual
o Futuro do Comércio e Serviços?
A CPPME, desde a sua fundação em 1985 tem, ao longo do tempo,
alertado para esta situação que se adivinhava, e que com esta política de
direita dos diversos des (Governos), não era de esperar outra coisa. Aliás,
diga-se em abono da verdade, que a CPPME tem sido e demonstrado porquê, a única
confederação que, em contraposição com as restantes AIP,AEP,CIP e CCP, tem
defendido e continuará a defender, sem quaisquer evasivas, as micro, pequenas e
médias empresas, sejam elas quais forem.
Sabemos que:
95,7% das empresas em
Portugal são Micro empresas.
3,6% são pequenas empresas.
0,4% são médias.
0,3% são grandes empresas.
- Sabemos que nada nos vem parar às mãos sem lutarmos pelos
nossos direitos.
- Sabemos também que há que defender os justos interesses
desta enorme camada social declaradamente antimonopolista e mostrar-lhes a
necessidade de se unirem, de lutarem e participarem na vida associativa.
Conscientes desta força só nos resta, se quisermos ser
ouvidos e respeitados pelo poder político, lutarmos organizados em torno das
associações locais e da CPPME.
A CPPME considera fundamental a promoção da coesão económica,
social, territorial e de igualdade de oportunidades em todo o território
nacional, tal como a Constituição da Republica Portuguesa estabelece.
Infelizmente sabemos que o Orçamento de Estado para 2014,
recentemente aprovado na AR, mas ainda não promulgado pelo Sr. Presidente da
Républica, não contempla as medidas concretas e precisas que iriam ao encontro
das graves necessidades do sector empresarial e produtivo do país. Apesar de tudo, a CPPME continua a bater-se
para seja possível uma retoma económica que
não ponha em causa o futuro do comércio e serviços, pelo que propõe:
1)
Que
se dê a devida importância ao mercado interno, sem o qual a economia regional
não poderá ter qualquer rejuvenescimento.
2)
Que
sejam instituídas linhas de crédito adequadamente bonificadas, que incentivem
os jovens a aplicarem em Portugal, o saber que cá adquiriram nas nossas
Universidades, a criarem as suas próprias empresas.
3)
Que
sejam consideradas medidas que tenham em conta o aumento do investimento
público e privado.
4)
Abrir
novas perspetivas de formação e adaptação das micros e pequenas empresas ao
mercado informático e às novas formas de comercialização via internet,
colocando às disposição destas e dos seus colaboradores, meios e ferramentas de
aprendizagem nas escolas públicas.
5)
Aumento
do poder de compra dos portugueses.
6)
Uma
profunda reforma fiscal e estável. (IVA,PEC, IRS,IRC,IMT,IMI)
É nossa convicção que estas duas últimas alíneas 5 e 6 são atualmente as principais fontes de
bloqueio da atividade económica, razão pela qual a CPPME apela para que os
MPMES não deixem de lutar e manifestarem o seu vivo repúdio pela atual politica
de autentico retrocesso de valores sociais alcançados com o 25 de Abril.
MAS, ATENÇÃO…
Mas não nos
podemos esquecer que, tão ou mais importante do que as medidas de incentivo à
economia que o estado ou outras instituições possam desenvolver, é a vontade do
próprio micro e pequeno empresário em querer olhar para o presente e
principalmente para o futuro. O Futuro já aí está, e se não olharmos para ele
com atenção passa ao nosso lado como um TGV, sem darmos conta.
E o futuro passa pelas novas formas de comércio que a
internet e o mundo digital trouxeram. Novas formas de chegar ao cliente, de
vender o produto, e que são irreversíveis.
Perante isto, os micro e pequenos empresários devem mudar o
paradigma, aceitar as mudanças e acompanha-las.
Procurar novas e inovadoras formas de chegar ao cliente, de
valorizar o produto, de imprimir força na marca e de ganhar novas formas de
distribuição.
Como é que isso se faz? Acompanhando os bons exemplos.
Quantos de vós conhecem micro e pequenos empresários que não
têm um espaço físico aberto?
Quantos de vós conhecem micro, pequenas e médias empresas
que, apesar de terem um espaço físico aberto, procuraram ter presença na
internet através de um site com possibilidade de, aí, poder vender produto a um
cliente que está a muitos quilómetros de distância?
E redes sociais? Quantos de vós tem uma conta no Facebook? Ou
no Twitter? Quantas horas é que os vossos filhos passam online, a ver sites ou
redes sociais?
Pois bem, se os clientes não vêm até nos, somos nós que temos
que ir ter com eles. Não são os clientes que têm que se adaptar a nós mas ao
contrário. E quer queiram quer não, caros amigos, estes são os novos clientes,
os clientes que estão sempre em rede e online, os clientes que marcam o
futuro das nossa empresas.